A palavra do especialista
por Marcello Borges
Charutos e vinho do Porto
Não é segredo para a maioria dos apreciadores que uma das melhores bebidas para acompanhar um charuto é o vinho do Porto, especialmente tinto. (Menos conhecidos, o Porto branco e o Porto rosé não se mostram bons companheiros dos puros.) Com seu corpo imponente, teor alcoólico considerável e notas de frutas secas, madeira e chocolate, evoca e casa-se harmoniosamente com um bom charuto.
Como em qualquer harmonização, a primeira regra a se observar é o equilíbrio entre os dois elementos. Um charuto muito suave (como um jamaicano ou panamenho, por exemplo) provavelmente vai ficar abaixo do Porto. E um charuto muito encorpado, como um Bolivar ou Partagas, pode se sobrepor a um Porto mais básico.
Por isso, é importante saber a escala relativa de força dos países produtores de charutos, digo relativa porque dentro de um mesmo país há charutos mais ou menos encorpados.
Escala de força de charutos e de vinho do Porto
De modo geral, do mais suave para o mais encorpado, podemos observar a sequência abaixo:
JAMAICA PANAMÁ REP. DOMINICANA USA MÉXICO BRASIL HONDURAS NICARÁGUA CUBA
Dentro de Cuba, podemos dizer que os mais suaves são Sancho Panza, Fonseca, H. Upmann, subindo para intermediários como Hoyo de Monterrey, Cuaba, Trinidad, e finalmente chegando aos mais encorpados, como Cohiba, Vegas Robaina, Ramon Allones, San Cristobal de la Habana, Bolivar e Partagas, estes dois últimos os mais fortes deles.
Quanto ao vinho do Porto, a escala de força vai dos mais leves – Ruby, LBV – aos mais encorpados – Tawny com idade declarada (10, 20, 30 anos, etc.) e Vintage.
Sei que vou contra a corrente daqueles que focalizam exclusivamente o Porto Vintage como parceiro dos charutos, mas para mim a harmonização ideal está nos Tawnies com idade declarada. O motivo é a palheta aromática do Tawny, que remete a frutas secas e especiarias, mais adequada aos componentes do charuto.
Mas como a imensa maioria das coisas que vemos no mundo da enogastronomia, há sempre um elemento subjetivo nessas conclusões. Por isso, para quem quer se iniciar na maridaje dos puros com Portos, minha sugestão é escolher um charuto e três ou quatro taças de Portos diferentes (digamos, um Tawny 10 anos, um LBV e um Vintage, por exemplo) e constatar pessoalmente o melhor par.
Lembre-se: não há certo ou errado, há combinações mais ou menos prazerosas para o gosto de cada um.
Boa fumaça!
Marcello Borges é estudioso e apreciador de vinhos e charutos há muitos anos, ministra cursos de Brandies e de Charutos na ABS (Associação Brasileira de Sommeliers), para a qual produziu o novo Curso de Marketing do Vinho.