Uma fascinante incursão nas descobertas da região vinícola do Estado da Virginia.
por Amanda de Castro
Uma estada em Washington DC me permitiu estar próxima da região Northen da Virginia. Foi tentador organizar uma esticada de menos de 70 km para conhecer um pouco o vinho elaborado por lá, e de fato valeu cada quilometro rodado.
Venha nesta descoberta.
O Estado conta com 260 vinícolas, divididas em 10 regiões. Há 17 vinícolas na região de Blue Ridge, 76 na Central Virginia, 10 na Chesapeak Bay, 1 na Eastern Virginia, 8 na Hampton Roads, 3 na Heart of Appalachia, 92 na Northern Virginia, 29 na Shenandoah Valley, 12 na Southern Virginia e 12 na Virgina Mountains.
De acordo com a Virginia Wine, as uvas mais plantadas na região são as Chardonnay, Petit Verdot, Cabernet Franc, Meritage, Petit Manseng Cabernet Sauvignon e Viognier.
Visitando vinícolas de Loudoun | Northen Virginia
O foco da visita foi a região de Loudoun, situada na Northern Virginia, que conta com 46 vinícolas e 697 acres de vinhas plantadas, concentrando uma grande produção de Chardonnay, Cabernet Franc, Norton e Viognier.
A primeira vinícola da Virginia visitada foi a Chrysalis Vineyard de propriedade da Sra. Jenni McCloud.
Primeiramente foi possível verificar a existência da maior produção do mundo de uma uva pouco conhecida no Brasil chamada Norton.
Falando da uva Norton
A Norton é uma uva nativa do Estado da Virgínia e que quase foi extinta no decorrer da vigência da Lei Seca. Ainda não se sabe, ao certo, quem preservou algumas mudas. Mas essa preservação foi fundamental para o replantio e perpetuação da identidade vinífera do Estado.
A Chrysalis conta com 40 acres de plantio dedicados a Norton. Pode-se dizer que é a maior maior produção de Norton do mundo. De acordo com a Sra. Jenni McCloud, a Norton é extremamente resistente a pragas e que essa resistência decorre da alta incidência de resveratrol que, no caso da Norton, é maior do que nas demais uvas tintas.
A Norton, nas palavras de McCloud, assemelha-se as uvas espanholas em decorrência dos aromas frutados. Além do mais, afirma que é uma uva que se adapta a clima úmido, pois as raízes não são tão juntas e isso evita a proliferação de fungos.
A primeira colheita de Norton, após a sua quase extinção, foi em 2000, com a plantação oorrida em 1998. A Norton demora um pouco mais para desenvolver do que as demais uvas e, dessa maneira, muitos vinicultores optaram por plantar outras vinhas. Como o replantio e colheita se deram muito recentemente, não se sabe ainda afirmar qual o poder de guarda da Norton, mas McCloud acredita que possa ser armazenada por anos.
Visando o desenvolvimento e propagação da Norton, McCloud utiliza 60% de sua produção vinífera e vende 40% para outros enólogos desenvolverem seus vinhos.
As outras uvas cultivadas na Chrysalis
Além da Norton a Chrysalis realiza o plantio de uvas espanholas, sendo elas: Albarinho, Tempranillo e Graciano e uvas francesas, mais precisamente a Viognier, Petit Verdot, Tannat e Petit Mansang.
Todas as uvas selecionadas para o plantio pela Chrysalis foram escolhidas pelo gosto pessoal da proprietária, Jenni McCloud. Ela esteve na França e na Espanha durante os anos de 1996/1998 e, particularmente, tem uma adoração pelas uvas espanholas.
A fazenda, além da produção vinífera, conta também com uma produção de geleias e, atualmente, se desenvolve para a produção de leite e queijos.
Degustando os vinhos da Chrysalis
Durante a visita foram degustados todos os vinhos produzidos pela Chrysalis, oito deles estão descritos a seguir.
1) 2015 Albariño
100% Albariño, sendo que 45% das uvas passam por fermentação em barril de carvalho francês. Este vinho tem aromas florais e cítricos com notas de pera madura e melão.
2) 2015 Viognier
Tem aromas de pêssegos, nectarinas e madressilvas. Com uma maciez subjacente apresenta traços cítricos doces, algo de abacaxi .
3) 2016 Sarah’s Patio White
É um blend de Vidal Blanc e Petit Manseng apresentando aromas florais e notas de pera, abacaxi e rosas brancas. Equilibrado com uma pequena quantidade de açúcar residual e acidez firme.
4) 2016 Sarah’s Patio Red
100% Norton – O vinho é semi-doce, com acidez equilibrada e aromas de cerejas vermelhas.
5) 2015 Norton Schitz & Giggels
Envelhecido em barril de carvalho. Intensamente escuro com uma pitada de doçura.
6) 2015 Estate Bottle Norton
Suave e rico, este vinho aromático exibe o clássico caráter de fruta Norton com notas de cereja escura, framboesa, chocolate preto com um toque de menta. A adição da uva Nebbiolo oferece mais caráter e estrutura com uma boa carga de taninos e nuances adicionais de frutas negras.
7) 2014 Petit Verdot
Um blend de 86% de Petit Verdot e 14% de Fer Servadou
A uva Petit Verdot é escura e de pele espessa, oferecendo um vinho encorpado com um nariz de doces e frutas glaçadas. É misturado com Fer Servadou para adicionar um toque empireumático e para completar os taninos neste elegante vinho encorpado.
8) 2013 Tannat
Com notas animais lembrando couro e carne defumada, somadas a traços de cacau, baunilha e café, este complexo vinho apresenta taninos estruturados e um um final longo assinalando a longividade na garrafa.
Visitanto a vinícola Boxwood que tem como enólogo o Tyler Henley.
Chama a atenção a beleza e suntuosidade da estrutura da vinícola. Ela foi desenvolvida por um arquiteto de Washington DC e mistura toques clássicos e modernos com uma perfeita harmonia.
É impossível chegar e não notar, logo de cara, a caverna circular. Ela foi construída abaixo do solo e mantém uma temperatura constante de 55 a 65 graus Fahrenheit.
O vinho é bombeado internamente através de tubos de aço inoxidável, para reduzir o uso de mangueiras, em barris de carvalho das florestas francesas de Alliers, Nevers, Tronçais e Jupé. O vinho é envelhecido em barris por até doze meses. Os barris são substituídos em uma rotação de três anos.
De acordo com Henley, o clima na Virgínia varia de ano para ano, que é uma das razões pelas quais as safras variam em características e misturam o conteúdo a cada ano. Em geral, a Virginia passa dias quentes e noites frias com chuvas moderadas do início da primavera até o início de junho, com temperaturas e umidade aumentando em julho e agosto. Setembro e outubro oferecem temperaturas mais moderadas e meses mais secos para a colheita da uva e destaca que a neve não é um problema para a produção. O maior desafio da vinícola, de acordo com ele, foi a tempestade tropical de 2014 que os forçaram a colher as uvas antes do tempo ideal.
As uvas da Boxwood
A vinícola é jovem e conta com 10 anos de existência e eles tem a intenção de criar vinhos passíveis de serem comparados à Bordeaux. As mais plantadas na região são Viogner, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Malbec e também Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot que na opinião de Henley foram as que tivera melhor adaptação.
Eles contam com diferentes clones das vinhas para que possam extrair o melhor de cada uma e, atualmente, estão plantando as espécies de maneira intercalada. Henley destaca a produção recente (2 anos) de Sauvignon Gris (um cruzamento de Sauvignon Blanc e Pinot Gris).
Perguntado sobre a diferença dos vinhos da Virginia em relação aos da Califórnia, ele afirma que a Califórnia tem diversidade de quantidade, enquanto a Virgínia tem muita qualidade.
Com o desenvolvimento da região, em 2012 criou-se a AVA (American Viticultural Area), uma denominação de origem que tem como regra que a utilização de, pelo menos, 75% de vinhas produzidas no Estado da Virginia.
O painel de vinhos degustado na Boxwood
1) Boxwood Sauvignon Blanc – Premier vintage 2016 – 100% Sauvignon Blanc com uma mistura de 2 clones diferentes. De acordo com o enólogo, as próximas safras contarão com um blend de Sauvignon Blanc e Sauvignon Gris.
2) Boxwood Rosé – um vinho seco e complexo produzido a partir de todas as variedades tintas da Boxwood. Apresenta aromais florais leves, sabor amanteigado e com coloração rosa dourado.
3) Boxwood Topiary – uma mistura elegante de 70% de Cabernet Franc, 22% de Cabernet Sauvignon e 8% de Petit Verdot, com 12 meses de envelhecimento em barril de carvalho francês.
4) Boxwood Reserve – um poderoso vinho com um blend de 24% de Cabernet Sauvignon, 24% de Merlot, 23% de Cabernet Franc, 11% de Malbec e 2% de Petit Verdot.
5) Boxwood Reserva – um blend de 48% de Cabernet Franc, 25% de Merlot, 22% de Cabernet Sauvignon e 5% de Petit Verdot. Envelhecido por 12 meses em barril de carvalho francês. Apresenta fortes aromas de baunilha e chocolate.
Uma experiência repleta de novos aromas e sabores e a seguir a instalação no Salamander Spa, que concluiu este dia. Mas a aventura continua, portanto aguardem as o dia seguinte. (Em breve)
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