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Niagara Falls: terra dos icewines canadenses

Relato de viagem de Jana Salorevista-eno-estilo-inverno-niagara-falls-2014

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Um relato de visita à terra dos vinhos icewines, vinhos de uvas congeladas sob a ação de rigoroso inverno.

Famosa pelas suas cataratas, a região de Niagara Falls divide o Canadá dos Estados Unidos e é motivo de várias discussões entre os locais, quanto a qual lado das quedas é o mais bonito. Fica a 1h30 de Toronto e abriga 83 mil habitantes, contando com mais de 50 vinícolas que produzem cerca de 60% dos vinhos do estado de Ontario.

A maioria das vinícolas da região recebe visitantes e oferece diversos tipos de tour, harmonizações e degustações de vinhos.

A primeira impressão que tive das vinícolas canadenses foi de que elas não fazem questão de serem conhecidas pela sua arquitetura. A estrutura do local é mais parecida com um galpão ou casa de fazenda.

Esqueça as imponentes obras de design arquitetônico das vinícolas espalhadas pelo mundo, pois você se sentirá um pouco decepcionado com as vinícolas daqui neste quesito.

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A região de Niagara Falls é bem familiar, não existem grandes “castelos”, as vinícolas são pequenas, as plantações são esparsas e não se vê muita pompa. Porém o ambiente é aconchegante e favorável ao consumo. E onde você será certamente muito bem atendido. 

O vinho icewine

Mas se o Canadá é conhecido por sua produção vitivinícola, o responsável sobretudo, é o icewine. Ele é literalmente, o vinho do gelo, produzido a partir de uvas congeladas, resulta em um vinho com alto teor de açúcar e acidez, já que a porcentagem de água na forma de gelo fica na prensa. A colheita manual é feita entre novembro e fevereiro – após o período normal em setembro/outubro – pois a temperatura deve cair no mínimo a -8 °C.

As melhores uvas para produção deste vinho são a Vidal e a Riesling, por terem casca mais grossa; no entanto, a região tem feitos bons experimentos com resultados incríveis, com a Cabernet Franc, a Merlot entre outras.

icewine-revista-eno-estilo-2014Não há adjetivos demais para o icewine quando degustado, como dizem, é o manjar dos deuses. Na taça, percebe-se o quão licorosa é a bebida, e no aroma notam-se algumas diferenças, que variam de acordo com a casta de produção, assim num icewine Vidal ou Riesling o aroma é um pomar de frutas em calda de abacaxi, damasco, tangerina e mel; no paladar o Vidal tem mais concentração de baunilha com leve tom cítrico e o Riesling mistura a essência doce, com forte acidez, resultante em um vinho refrescante.
Em um icewine Merlot ou Cabernet Franc o aroma é concentrado em frutas vermelhas em calda, no paladar o primeiro tem chocolate e final apimentado, enquanto que no segundo nota-se mais concentração das frutas, e ambos são mais encorpados que os brancos.
A temperatura de serviço recomendada está entre 8 e 10ºC, pode ser servido como aperitivo  acompanhando entradas salgadas, castanhas ou patê de foie gras. Nas refeições vai bem com comida condimentada ou agridoce, e, na clássica harmonização com a sobremesa, icewines brancos vão bem com queijos azuis ou cremosos, frutas cítricas, abacaxi, pêssego, damasco ou carambola. Os icewines tintos vão bem com chocolate, morango, sobremesas com frutas vermelhas ou crème brûllé.

Também descobri em minha visita o espumante de icewine.

Criado acidentalmente por um escritor e amante de vinhos, teve sua primeira produção feita pela Inniskillin em 1996 com o método charmat. Foi o primeiro espumante de icewine aprovado pela  VQA (Vintners Quality Alliance) que regulamenta a apelação de origem dos vinhos canadenses por ser feito sem adição de gás carbônico.

icewine-revista-eno-estilo-2014-4As três vinícolas que visitei na região foram: Inniskillin, Pilliteri e Peller Estates. Elas produzem tanto icewines como vinhos espumantes, brancos e tintos.

A Inniskillin foi fundada em 1975, tendo sua primeira colheita em 1977. O fundador é Donald Ziraldo. O primeiro icewine da vinícola foi produzido em 1984 com a uva Vidal. Foi a primeira grande vinícola a produzir o icewine no Canadá e continuou esse pioneirismo, também ao produzir o primeiro espumante de icewine reconhecido pela VQA.
Hoje a Inniskillin produz icewines e varietais de Riesling, Meritage, Chardonnay e Pinot Noir.

A Pilliteri se denomina como “o maior produtor de Icewine no mundo e um dos mais inovadores, criando uma grande variedade de Icewines, usando Vidal, Riesling, Gewürztraminer, Chardonnay, Cabernets, Merlot e o primeiro produzido comercialmente Shiraz Icewine” segundo seu próprio site. A vinícola foi criada em 1993 em razão do sonho de aposentadoria de Gary Pillitteri, que sempre trabalhou como produtor de uvas e enólogo amador  em Niagara.

A Peller Estates iniciou como vinícola em 1969. A empresa se preocupa em oferecer ao consumidor produtos de alto nível, eles veem no vinho não só uma bebida, mas uma experiência, e motivam o cliente a entrar nela. Preocupam-se com harmonização com a comida, ocasião que o vinho será aberto, etc. Eu diria que a Peller tem um jeito mais poético de lidar com o vinho.  Produzem Chardonnay, Riesling, Gewürztraminer, Sauvignon Blanc, Pinot Grigio, Meritage, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot além dos icewines, é claro.


Jana Salo  visitou o Canadá em abril de 2014 e enviou seu relato à revista Eno Estilo. 
É bibliotecária, sommelière formada pelo SENAC. Apaixonada por vinhos há mais de 6 anos.

Texto e fotos também são de sua autoria. Mapa: Google. 





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